domingo, 3 de julho de 2011

PASSADO E PRESENTE DE SELADA DAS PEDRAS VISTO PELOS OLHOS DE UMA ILUSTRE HABITANTE

Celeste Antunes é uma das figuras mais carismáticas de Selada das Pedras. Nascida e criada na aldeia, deu voltas pelo Mundo, mas sem assentar arraiais e cedo voltando às origens. Presentemente, é a habitante com mais tempo total de residência na povoação. Perante este trajecto de vida, tem, por isso, muito para contar acerca da evolução da terra.

Chegou a viver na Ilha Terceira, nos Açores (mais de um ano), em Lisboa (três anos) e até no estrangeiro, em Hamburgo, na Alemanha (mais de dois anos). No entanto, razões familiares levaram Celeste Antunes a regressar precocemente a Selada das Pedras. Há mais de 30 anos que habita definitivamente na sua aldeia-natal.

Poucos conhecem tão bem a povoação como a D.Celeste, que, desde que nasceu e ao longo dos tempos, foi assistindo ao crescimento da mesma. Diz esta senhora, que andou pelo Mundo, que a aldeia “mudou como da noite para o dia”, realçando as diferenças que têm o tamanho… do ‘mundo’! “Não há comparação entre a Selada das Pedras do tempo em que nasci e a de agora. Naquela altura, a aldeia tinha poucas casas, apenas nove, e era muito mais pequena. Não havia sequer uma estrada até à povoação e as pessoas deslocavam-se por um carreiro. As crianças iam para a escola a pé, mais de uma hora, quer chovesse ou nevasse”, conta a septuagenária.


A terra continua hoje a não ser habitada por muita gente, mas a realidade actual é bem distinta daquela que se caracterizava pelo isolamento e pelas dificuldades sentidas a vários níveis básicos. As mudanças são de tal forma abismais que a ‘Ti’ Celeste classifica a aldeia actual como “uma verdadeira cidade” quando comparada com outrora. “À vista do passado, tudo é diferente. Agora temos telefone, electricidade e água, pois chegámos a ter que andar nos poços a tirar água com um copo para os cântaros”, refere, confessando ainda que “nunca imaginava que um dia fosse possível existirem todas estas coisas na aldeia.”

MUDANÇAS ATÉ ABRANGERAM A VIDA RELIGIOSA DOS SELADENSES

Crente na religião cristã, Celeste Antunes desempenha a nobre função de mordoma da Capela de Nossa Senhora de Fátima. Reconhecendo tratar-se de uma tarefa que “ainda dá muito trabalho”, D. Celeste salienta, no entanto, que a executa “com todo o gosto”.

E até nestas coisas da fé também as melhorias em relação ao antigamente saltam à vista. “Tínhamos que ir à missa a outras terras. Íamos a pé, fizesse chuva ou sol, mas ninguém faltava à missa aos domingos. Agora é mais fácil, porque o padre já cá vem e todos os sábados temos missa na nossa aldeia. Hoje, ao contrário do que acontecia no passado, são algumas pessoas de outras povoações a vir à nossa para assistir à missa”, explica 'Ti' Celeste, com natural satisfação.

Existiram inúmeras transformações na povoação, todavia, há coisas que permaneceram inalteráveis. Dedicada à agricultura, Celeste Antunes mantém, aos 73 anos, a sua rotina diária, tal como outros habitantes da terra. “Todos os dias vou às três hortas que ainda tenho, de manhã e à tarde, mesmo que não tenha lá nada para fazer, vou sempre vê-las”, revela.

A finalizar, a mordoma da Capela de Selada das Pedras mostra ser uma boa anfitriã para todos aqueles que queiram visitar a aldeia, sublinhando que “as pessoas que vêm de fora serão sempre bem-vindas”