quarta-feira, 28 de setembro de 2011

'TI' GRACINDA CHEGOU, VIU E FICOU... NA ALDEIA!

Não nasceu nem foi criada em Selada das Pedras, mas considera-se uma seladense de alma e coração. Gracinda de Jesus habita na nossa aldeia há mais de meio século e tem muito para contar…

Nascida há quase 81 anos no Muro, a cerca de 5 Km de Selada das Pedras, Gracinda de Jesus é actualmente uma das habitantes mais antigas da aldeia. Chegou ainda jovem à povoação, com 28 anos, e por cá assentou arraiais. “Já lá vão 53 anos… O meu marido tinha primos direitos aqui e vim para Selada das Pedras como caseira de uma fazenda de pessoas da aldeia. Trouxe para cá quatro filhos e o mais novo já nasceu em Selada das Pedras”, revela ‘Ti’ Gracinda.

Tendo chegado a Selada das Pedras logo “com a ideia de ficar”, Gracinda de Jesus afirma que essa mudança se traduziu num grande momento de viragem na sua vida, conduzindo-a a outra estabilidade e conforto. “Foi a minha sorte ter vindo para aqui. Passei grande parte da minha vida aqui e foi onde tive uma vida melhor. Cheguei aqui pobrezinha e, mesmo não tendo ficado rica, nada me falta. Quando aqui cheguei nem sequer casa tinha, andava de casa em casa”, afirma a octogenária.

Depois de 13 anos a viver em casa dos patrões, a questão relacionada com a falta de habitação própria acabaria por ser resolvida. “Há 40 anos comprei a minha casa, que, ao longo do tempo, foi sendo melhorada”, afirma orgulhosamente Gracinda de Jesus, que se sente “uma seladense de alma e coração”.

“HOJE É UM LUXO VIVER EM SELADA DAS PEDRAS”

Ao longo de mais de cinco décadas a residir em Selada das Pedras, ‘Ti’ Gracinda assistiu a inúmeras transformações decorrentes da evolução da povoação. Para ela, olhando para o passado, “é um luxo” viver actualmente na aldeia. “Não há comparação com os tempos antigos. Tínhamos que ir buscar a água à fonte e a luz existia apenas com candeeiros a petróleo. Agora já temos água e luz em casa. Antigamente nem havia estrada, existia apenas um caminho, tínhamos que andar sempre a pé. Hoje até já cá vem o padeiro e o merceeiro… Há uns anos, ninguém acreditava que isto iria estar assim”, refere Gracinda de Jesus.

Mas, como em tudo, há um senão. A desertificação que afectou o interior do País, e que inevitavelmente se fez sentir também em Selada das Pedras, é o único aspecto que entristece esta habitante seladense: “Antigamente a terra era mais pequena e tinha menos casas, mas tinha mais gente. As casas estavam cheias, com os casais e muitos filhos.”

No entanto, felizmente para ‘Ti’ Gracinda, ela não é das pessoas que mais podem queixar-se do isolamento, nem do esquecimento daqueles que lhe são queridos. “Recebo muitas visitas e muitos telefonemas. Tenho uns netos e uns filhos de ouro. São todos muito bons para mim”, conclui com enorme satisfação.